Tai chi

 

 

O Tai Chi Chuan é uma arte marcial interna chinesa, categoria nomeada em chinês de neijia. É reconhecida também, como uma forma de meditação em movimento.

Os princípios filosóficos do Tai Chi Chuan remetem ao Taoísmo e à Alquimia Chinesa.

A relação de Yin e Yang, os Cinco Elementos, o Ba Gua (Oito Trigramas), o Livro das Mutações (I Ching) e o Tao Te Ching de Lao Zi são algumas das principais referências para a compreensão de seus fundamentos.

 

Os textos clássicos do Tai Chi Chuan escritos pelos mestres orientam a:

 

        * Vencer o movimento através da quietude (Yi Jing Zhi Dong)

        * Vencer a dureza através da suavidade (Yi Rou Ke Gang)

        * Vencer o rápido através do lento (Yi Man Sheng Kuai)

 

O Tai Chi Chuan tem as suas raízes na China, sendo actualmente uma arte praticada no mundo todo. É apreciado no ocidente especialmente pela sua relação com a meditação e com a promoção da saúde, oferecendo aos que vivem no ritmo veloz das grandes cidades uma referência de tranquilidade e equilíbrio.

Os criadores do Tai Chi Chuan basearam sua arte na observação da Natureza - não apenas na observação dos animais, mas no estudo dos princípios da interacção entre os diversos elementos naturais.

Como somos parte desta natureza, o conhecimento destes princípios e de como actuam dentro de nós, estudados pela Medicina Tradicional Chinesa, revelam o Tai Chi como uma fonte efectiva de energia que encontra-se em nosso interior, situada na região do corpo nomeada pelos chineses de Dantian Médio.

 

Significado do termo Tai Chi Chuan

 

Os ideogramas que compõem a palavra Tai Chi Chuan significam:

 

    * Tai significa "o maior", "o mais alto", "supremo", "absoluto".

    * Chi (ou Ji) significa, original e literalmente, a parte mais alta do.

    * Chuan (ou Quan) significa Punho, aqui simbolizando "soco", "luta à mãos livres" (desarmadas), "boxe".

 

Diagrama do Tai Chi.

 

No Taoísmo, onde o Tai Chi Chuan teve sua origem, a "Suprema Cumeeira", ou "Limite Absoluto" tem a conotação filosófica de "Elevação", "Sublimação", "Purificação", resultante, entre outras, do desenvolvimento de um mecanismo de defesa emocional pelo qual tendências ou sentimentos inferiores se transformam em outros que não o sejam.

O Tai Chi também simboliza o "Cosmo" e a interação, dos princípios energéticos Yin e Yang, em constante mutação, sendo conhecida a sua representação pelo Tai Chi Tu (Diagrama do Tai Chi), mais conhecido no Ocidente como o "Símbolo do Yin-Yang".

 

Origem

 

A história do tai chi chuan é considerada sempre sob dois aspectos: o lendário e o historicamente comprovado. Esses dois aspectos não se excluem necessariamente para a maioria dos professores propagadores dessa arte.

 

O aspecto lendário é, geralmente, encarado como uma metáfora para indicar o desenvolvimento dos princípios do tai chi chuan através da figura do taoista imortal Chang San Feng. Historicamente comprovado, o criador do tai chi chuan foi Chen Wangting.

Existem indicações de que, durante a Dinastia Tang (618-906 d.C.), um eremita chamado Xu Xuan Ping desenvolveu uma arte chamada "os trinta e sete estilos do tai chi", também chamada de chang chuan (punho longo) ou chang kiang (rio longo).

Por volta da mesma época, um monge taoista chamado Li Dao Zi praticava uma arte denominada "punho longo primordial", semelhante aos trinta e sete estilos do tai chi.

Muitas das posturas dessas duas artes têm nomes semelhantes aos das actuais posturas do tai chi chuan.

O texto Guan Jing Wu Hui Fa (Método para se alcançar o esclarecimento através da observação da escritura), escrito por Cheng Ling Xi na época da Dinastia Liang (907-923 d.C.), no Período das cinco dinastias e dos dez reinos, é o documento mais antigo já encontrado a usar o termo tai chi chuan. Cheng Ling Xi foi discípulo de Han Gong Yue, que lhe ensinou sua arte, chamada "Os catorze estilos do treino do tai chi".

Chang San Feng (1247-?), que então vivia num templo taoista do monte Wudang, já teria desenvolvido uma arte conhecida como "Os trinta e dois estilos do punho longo de Wudang" e, posteriormente, criou "As treze posturas do tai chi", após observar uma luta entre um pássaro (grou) e uma cobra, quando constatou que a flexibilidade se sobrepunha à rigidez, compreendendo a prática da alternância entre o yin e o yang e outras concepções da natureza, que se constituem na base do que depois passou a ser chamado de tai chi chuan.

O sucessor de Chang Sangfeng foi o também monge taoista Taiyi Zhenren que, no final da dinastia Ming, difundiu a arte entre os discípulos do monte Wudang. Entre esses discípulos, encontrava-se outro monge de nome Ma Yun Cheng.

Ma Yun Cheng transmitiu a arte para vários discípulos célebres, entre eles Mi Deng Xia e Guo Ji Yuan, popularmente conhecidos como "os dois santos" e Wang Zhong Yue, que denominou essa arte de Wudang tai chi chuan e escreveu o Tratado de Tai Chi Chuan.

Wang Zhong Yue transmitiu o tai chi chuan ao famoso mestre Zhang Song Xi, que depois o ensinou a Dan Si Nan, que veio a ter como discípulo Wang Zheng Nan, que se referia à arte de Wudang como uma arte interior, distinta das artes de Shaolin, que ele chamava de arte exterior.

Segundo os historiadores Tang Hao e Gui Liuxin, seguindo a origem a partir do fato histórico de que Yang Luchan aprendeu com Chen Changxing (1771-1853) do vilarejo de Chenjiagou, o Tai chi Chuan foi criado por Chen Wangting (1600-1680) na passagem da dinastia Ming para a dinastia Qing. Esta é a versão considerada oficial pelo governo chinês.

 

As treze posturas fundamentais

 

Enquanto arte marcial, o Tai Chi Chuan se baseia em treze conceitos fundamentais (Shi San Shi). Estas posturas/movimentos podem ser reconhecidos nas diversas formas praticadas pelos diferentes estilos. Cada escola interpreta estes conceitos com pequenas variações.

São conhecidas como As Oito Portas e os Cinco Passos em chinês são denominadas: Peng, Lu, Ji, An, Cai, Lie, Zhou, Cao, Jin, Tui, Gu, Pan e Ding.

As Oito Portas (Bā mén) se associam às oito direções representadas pelos oito trigramas do Pa Kua (py bā guà), elementos básicos na constituição do I Ching (py Yijing).

 

        * Os quatro lados (Si zheng)

 

        Péng (aparar)

        Lǜ (desviar)

        Jǐ (pressionar)

        Àn (empurrar)

 

        * Os quatro cantos

 

        Cǎi (colher e puxar)

        Liè (colher e quebrar)

        Zhǒu (golpe de cotovelo)

        Kào (golpe de ombro)

 

Os cinco passos (Wǔ bù) podem ser relacionados aos Cinco Elementos cósmicos  que fundamentam a medicina tradicional chinesa: madeira, fogo, terra, metal e água.

 

        Jìn bù (avançar)

        Tùi bù (recuar)

        Zǔo gù (olhar à esquerda)

        Yòu pàn (olhar à direita)

        Zhōng dìng (equilíbrio central)

 

 

Os dez princípios essenciais

 

Conforme Yang Chengfu:

 

   1. Suspender a cabeça pelo topo com leveza e sensibilidade [Xu Ling Ding Jin]

   2. Esvaziar o peito [Han Xiong] e alongar as costas [Ba Bei]

   3. Relaxar a cintura [Song Yao]

   4. Distinguir entre o cheio e o vazio [Fen Xu Shi]

   5. Relaxar os ombros [Chen Jian] e soltar os cotovelos [Zhui Zhou]

   6. Usar a mente e não a força muscular [Yong Yi Bu Yong Li]

   7. Interligar os movimentos da parte superior e inferior do corpo [Shang Xia Xiang Sui]

   8. Unir o interior e o exterior [Nei Wai Xiang He]

   9. Mover-se com continuidade, sem rupturas [Xiang Lian Bu Duan]

  10. Buscar a quietude dentro do movimento [Dong Zhong Qiu Jing]

 

O Tai Chi Chuan já foi concebido e se desenvolveu na antiguidade como uma forma avançada e eficaz de combate: a função de guarda-costas foi exercida por diversos praticantes da família Chen; instrutores da família Yang deram aulas para a guarda imperial e posteriormente para o exército republicano chinês.

A sua aplicação como arte marcial acontece através do uso de movimentos circulares e contínuos que acompanham e complementam os movimentos do adversário de um modo similar ao ilustrado pelo símbolo do Tai Chi.

O próprio símbolo do yin/yang, conhecido também como diagrama do Tai Chi, é a melhor metáfora para reflectir sobre quaisquer posturas que se apresentem como pólos opostos em uma discussão.

Este símbolo mostra a interacção dos opostos e como um interage, define e amplia o significado do outro. A prática do Tai Chi Chuan focada na questão marcial e a prática focada na questão da saúde podem ser vistas como estes pólos extremos, para que o treino seja efectivo é necessária a presença destes dois aspectos.

 

A adequação da proporção entre estes dois aspectos dentro do trabalho realizado por um instrutor com um grupo específico depende da formação do instrutor segundo uma escola que enfatize mais um ou outro aspecto, da visão pessoal do instrutor sobre a prática e das necessidades específicas do grupo de alunos com que trabalha

Sabendo isto, é importante que o interessado em praticar Tai Chi Chuan converse com os responsáveis pela orientação de seu grupo para descobrir como são abordados os diferentes aspectos pertinentes a esta prática, como: a auto defesa; o treino para a saúde; o equilíbrio dos aspectos físicos, emocionais, mentais e espirituais verificando se estas posturas correspondem às suas expectativas em relação à prática.

 

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